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Marianna Crioula

“Morrer sim, se entregar jamais!”

Foi uma mulher negra costureira, escravizada que viveu nas terras cariocas, mucama que fazia companhia a Francisca Xavier, apoiadora do sistema escravocrata e senhora das fazendas cafeeiras Maravilha e Freguesia, parte do distrito da Vila de Vassouras, região do Vale do Paraíba, no Rio de Janeiro. Naquele período as mulheres negras nascidas no Brasil eram chamadas de crioulas, motivo pelo qual surge o sobrenome de Mariana.

 Sua história começa a ser narrada pela participação em uma das maiores revoltas fluminenses ao lado de Manuel Congo (seu sobrenome faz referência ao lugar de onde foi sequestrado em África), a insurreição da Paty de Alferes, quando ela tinha aproximadamente 30 anos. 

Na fazenda Freguesia, propriedade vizinha à que vivia, mataram o feitor e cerca de 400 negros escravizados fugiram sob a liderança do ferreiro Manuel Congo, almejando construir um quilombo. Foi durante esses episódios de revoltas que Mariana conheceu seu companheiro na luta e por quem ela iria se apaixonar. A caminho da serra da Mantiqueira, foi tida pelo grupo como uma figura de liderança, sendo conhecida como a rainha do quilombo, junto ao rei, Manuel Congo.

 Entretanto, o grupo de mocambos foi surpreendidos por tropas da Guarda Nacional fundada pelo Duque de Caxias. Nos autos, o coronel da Guarda Nacional retratou no processo que Mariana, à frente da guerra e dos seus irmãos, foi relutante em se render e gritava em alto e bom som: “ Morrer sim, se entregar jamais!”. Foi em 12 de novembro de 1838, uma semana após a construção do quilombo, que Manuel Congo e Marianna Crioula foram presos.

Por mais que Mariana fosse indicada pelos outros réus como a rainha do quilombo, uma das lideranças da insurreição, ela acabou sendo absolvida junto com as outras mulheres, existem rumores de que Francisca Xavier seria a responsável pelo feito. Há ainda uma resolução prescrita no Código Criminal do Império, referindo-se à condição das mulheres como inferiores aos homens e por esse motivo não poderiam receber a mesma punição. O único apontado de homicídio foi Manuel Congo, cuja a sentença da morte foi enforcamento, executada em setembro de 1839 e assistida por sua amada, condenação descrita como morte natural na forca.

Os outros líderes presos tiveram como castigo 50 açoites durante cerca de 13 dias e quem conseguisse sobreviver  teria a punição de usar uma gargantilha de ferro, simbolizando que era um criminoso por ter participado da revolta, pois naquele período os negros não possuíam nenhum direito a não ser o de serem corpos escravizados a proveito dos torturadores de engenho, os barões. 

Vale ressaltar que foi decretada a lei nº 5899, em 24 de fevereiro de 2011, declarando Mariana Crioula e Manuel Congo como os heróis do estado do Rio de Janeiro, entretanto não existe nenhuma estátua que concretize ou coloque essas personalidades negras da história brasileira em notoriedade. Demonstração nítida do resquício do sistema escravocrata, a utilização política de ferramentas de apagamento das narrativas do povo preto.

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Noemy Ariane Tomas

Noemy Tomas, militante negra, cientista social em formação pela PUC Campinas.
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By Noemy Ariane Tomas

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