qui. dez 5th, 2024
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A.Campos

Antonio Marcelo Campos

MEDITAÇÃO, ESPIRITUALIDADE E MATURIDADE ESPIRITUAL
Parte UmPor Antonio Campos

Em geral, quando começamos um Caminho Espiritual o fazemos nos esforçando para desenvolver fé em Deus ou em um mestre que, de alguma forma, procura representar a encarnação do divino. Esse procedimento segue por muito tempo ainda, pois quanto mais o tempo passa mais nos esforçamos para alcançar essa dimensão Luminosa que emana da ideia de Deus e que se substancializar nas palavras do mestre, do guru. Acreditamos que através de nossa fé em Deus ou no mestre, possamos atravessar a condição revoltosa do Mar da Vida e chegar em segurança à ilha paradisíaca do nirvana.

É interessante observar que começamos o caminho assim, com algo inteiramente exterior a nós, com algo totalmente fora da nossa

individualidade sofrida e apertada pelos ditames da vida. Pode-se dizer que buscamos o espiritual por não mais vermos a possibilidade de sermos felizes através do mundo exterior, através do mundo fenomênico. Mas quando fazemos isso ainda reproduzimos esse velho paradigma, pois que Deus ou o mestre ainda são condições que precisam ser alcançadas, atingidas e que, portanto, estão no mundo dos seres e dos fenômenos e não no nossa própria interioridade.

Acredito que esse é um início inevitável para a maioria de nós.

Queremos encontrar uma vida livre de sofrimentos e quando olhamos para nós mesmos tudo o que vemos é justamente aquilo do que queremos nos libertar: sofrimentos. Então, é bastante natural que procuremos em algum lugar fora de nós, é bastante natural que a concepção que tenhamos de Deus é de um Poder exterior a nós.

Mas, com o tempo e a correta dedicação ao Caminho somos levados a procurar tudo o que precisamos no lugar certo: dentro do nossa própria mente, dentro das condições do nosso coração. Isso ocorre porque ao tentarmos desesperadamente nos ajustarmos ao ideal de perfeição de Deus ou aos ensinamentos de um mestre espiritual, vemos que não conseguimos, vemos que não correspondemos. No início usamos uma estratégia antiga para solucionar essa disparidade entre o que eu sou e o que eu preciso ser.

Criamos uma máscara, criamos uma persona que procura simular a perfeição que desejamos. O problema é que quando fazemos uso desse expediente equivocado nós fugimos da verdade. Onde não há verdade não a amor e onde não há amor não há sabedoria. E onde não há sabedoria não há realmente Caminho Espiritual. Então, ao nos esforçarmos em seguir adiante carregando uma máscara, acabamos por criar inúmeras formas de sofrimentos que se originam do nosso autoengano. Com o tempo essa estratégia se mostrará insuficiente, pois mesmo seguindo nossos ideais de fé, acabamos encontrando mais e mais sofrimento. Logo, tudo o que restará será olharmos para nós mesmos.

Esse é um momento ímpar no Caminho. Esse é o momento em que poderemos trabalhar com algo real, com o que é e não com nossos sonhos e devaneios de como as coisas devem ser. Para mim esse é o momento em que se inicia verdadeiramente a Espiritualidade em nossas vidas. Ou seja, podemos acreditar em Deus, podemos acreditar nos mestres, podemos ser devotos aos gurus e ainda assim não sermos pessoas espiritualizadas.

Somos, no máximo religiosos, mas não espiritualizados. A espiritualidade verdadeira tem relação com nossa interioridade, com o autoconhecimento, com nossa capacidade de nos olharmos com grande honestidade e infinita compaixão. Podemos conhecer profundos pensamentos teológicos a respeito de Deus, dos Anjos e do paraíso. Mas se não conhecermos a nós mesmos é como se não soubéssemos de nada.

sso me faz lembrar Patanjali e seu Yoga Sutra. Patanjali é um sábio

Patanjali

indiano que viveu a aproximadamente 3.000 anos atrás. Sabemos muito pouco sobre ele e tudo o que nos chegou está envolto por aspectos mitológicos. A 3.000 anos atrás as pessoas não estavam tão preocupadas com a racionalidade como estamos hoje, pois para elas o mito tinha mais sentido e mais significado. O mito era a pegada deixada pelo Invisível. Então, é de se esperar que uma figura da envergada de Patanjali seja envolvido pelo mito, por aquilo que transcende o senso comum e ajuda a transfigurar a mente aprisionada no mundo sensório. Mas, embora saibamos pouco sobre ele, ficou-nos de forma excepcional a essência de seus ensinamentos, seu Yoga Sutra. Um pequeno e significativo livro contendo 196 aforismos que sintetizam de forma lapidar as etapas a serem seguidas no Caminho da libertação do sofrimento.

O primeiro sutra nos diz: “Atha yoganusasanam.”

Há diversas traduções possíveis para esse aforismo, mas, de certa maneira, todas têm o mesmo sentido; algo que nos diz: agora vamos começar o estudo do Yoga.

A maioria dos tradutores dá grande importância à palavra “atha”, pois ela pode significar “momento auspicioso” ou “momento apropriado”. Os dois sentidos se voltam para a mesma questão, o fato de que mestre e discípulo se encontram justamente no momento em que a condição interior do discípulo é inteiramente apropriada à transmissão da sabedoria do Yoga.

Este é um ponto de grande importância, pois ele denota que, se as condições do discípulo não forem apropriadas, a transmissão ou compreensão do Yoga se faz impossível. Patanjali acreditava que aqueles que se aproximasse do Yoga já teriam percorrido um longo caminho de estudos, decepções, revelações e que, após toda essa trajetória de méritos e deméritos, estaria a pessoa apta a ouvir o dharma que a conduzirá finalmente à verdadeira Paz, ao samadhi.

Nos tempos de Patanjali era extremamente difícil se encontrar o Yoga.

Buscar a sabedoria era como navegar num mar desconhecido em busca de uma ilha paradisíaca. Poucas pessoas navegam no mar; dessas poucas pessoas, somente algumas navegam muito no mar; dessas que navegam muito poucas se deparam como uma ilha celestial. Essa era a dificuldade nos tempos de Patanjali. Muitos erram pelo mundo em busca da verdade, poucos o faziam tempo suficiente para poder encontrá-la, e dessas que erram tempo suficiente, poucas conseguiam encontrar o Yoga é um instrutor preparado.

Hoje o quadro é bem outro. Qualquer desavisado que leia sobre o

assunto pode adquirir os sutras sem sequer sair de casa. Mas, mesmo com tanta facilidade, “atha”, a condição apropriada e auspiciosa, ainda é uma regra, e não pode ser comprada ou solicitada pelo correio ou pela internet.

Tem que ser conquistada. Podemos nos perguntar: “E qual seria essa condição apropriada?” – a resposta mais simples e direta é aquela que traduz inteiramente as condições do discípulo; ou seja, o momento apropriado é aquele em que a mente do discípulo está preparada para receber toda a sabedoria do Yoga e saber o que fazer com ela. E isso é o que chamamos aqui de maturidade espiritual.

 

 

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Eddie Junior

Radialista à 20 anos na Região Metropolitana de Campinas , Jornalista
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By Eddie Junior

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